Ganhar ou Perder (Sobre o Fim de "Ted Lasso")
Série mostra com humor e sensibilidade como as relações humanas podem ter a intenção de construções positivas
O luto é real: Um mês após o fim de Ted Lasso, muitas conversas com amigos que acompanharam a série ainda trazem o pesar da despedida, ainda que acompanhado de um grande sorriso por tudo o que a série da Apple TV nos deu em suas três temporadas. Não sei qual é a sua relação com o programa, mas prometo aqui um texto livre de spoilers.
A minha história com a série é simples: Todos os meus amigos que assistiam me disseram que eu ia gostar. Eu mesmo desconfiava disso, principalmente porque um dos criadores, Bill Lawrence, é a mente por trás de uma das séries da minha vida, Scrubs. Aproveitei uma promoção, assinei Apple TV e vi as duas temporadas disponíveis até então. Gostei bastante. Às vésperas da terceira temporada, decidi rever as anteriores para entrar no clima e relembrar os detalhes (e logo vi que tinha esquecido quase tudo), e minha surpresa foi perceber que esse replay foi ainda mais legal que vê-la pela primeira vez.
Ted Lasso conta a história de um técnico de futebol americano do interior dos EUA que, após viralizar com um vídeo dançando (!), é convidado para treinar um time de futebol (futebol mesmo, o que a gente conhece) em Londres. E o que acontece a partir daí é uma longa estrada rumo a algum tipo de final feliz, pautada não pelos estádios, jogos e campeonatos, mas pelo que move todas essas coisas: Nossas relações, inclusive as que cultivamos cada um consigo mesmo.
É o jogador que passou da idade de estar em campo e precisa aceitar esse novo momento, a dona do clube que percebe que precisa escolher se a vontade de vingança vai definir toda a sua vida, ou o assistente dos técnicos que, depois de sofrer tanto bullying, se percebe repetindo um padrão de comportamento opressivo assim que tem a chance. E é também toda construção que acontece nas trocas entre as pessoas, principalmente quando há uma grande intenção de deixar algo positivo no outro. E eis aí o coração da série, personificado no próprio Ted e seu modo de levar a vida e as relações.
Foi muito interessante assistir à última temporada ao mesmo tempo que via Barry (uma das melhores coisas que já vi na vida, mas isso não vem ao caso agora), porque ambas partem de uma mesma premissa - o que acontece na vida das pessoas que entram em contato com o personagem-título -, mas as narrativas seguem em direções diametralmente opostas. Se essa é sobre um homem traumatizado que deixa um rastro de enorme destruição por onde passa, Ted Lasso é sobre um homem traumatizado que intencionalmente consegue construir algo bom em todos ao seu redor enquanto lida não apenas com traumas do passado, mas também com aqueles que acontecem ali em tempo real.
E, como conversei bastante com meus amigos Miguel e Nathália (mais sobre ela abaixo), ver Barry e Succession no início da semana era de perder por completo a fé na humanidade. Daí, às quartas-feiras, a esperança era restaurada ao contemplarmos quase uma utopia do que é um time de futebol agindo não como manda a tradição de masculinidade que conhecemos, mas, influenciados pelos técnicos, homens que querem agir com respeito e maturidade emocional. E esse modelo do masculino (tão diferente dos de Barry e Succession) por si só já seria motivo suficiente para ver a série.
Gosto muito de pensar que, em nosso idioma, diferente do original com que foi produzida, “ganhar” e “perder” são parte integral dos temas da série. Sim, é claro, tem a ver com vitórias e derrotas em campo. Mas, e aí é que tá, é o que se ganha nas construções positivas e verdadeiras com outras pessoas, e o que você precisa deixar para trás para conseguir viver daqui para frente. É o que se conquista e o que é necessário abrir mão, coisas que todo pós-jovem lida diariamente.
E, em meu estágio de aceitação do luto pelo fim da série, fico feliz que ganhamos mais um daqueles “lugares seguros”, aqueles programas que você coloca quando precisa dar um sorriso garantido. E poder sorrir assim, ainda mais ao ser relembrado de tudo isso, nunca é perder tempo.
Bruna Mendez, cadê você?
A sessão Pós-Jovem, cadê você? está aqui para botarmos o papo em dia com convidados que deram as caras no podcast há um bom tempo. Nesta edição: Bruna Mendez (episódio #034)
“Acho que não lembro qual foi última vez que eu estive em um lugar consciente e planejado, 2019 talvez, com altos brilho no olhar.
Nos últimos anos, tenho vivido quase que só com o planejamento básico pro almoço e janta, música as vezes me parece um universo distante e eu já faço isso há 12 anos. Hoje tenho feito, mas sem esperar tanto, sem planejamento e, de alguma forma, me vi agora com um disco no tempo que deveria ser, dentro do que eu consigo.
Esses dias, pensei que meu próximo disco pode ser o último, que eu vou fazer com tudo que tenho e só, isso me fez bem, parece que agora eu não quero ser nada pro mercado, quero fazer música como eu fazia antes de parecer pesado.
Nessa busca pelo o que gosto, tenho gastado energia em fazer por mim, tenho transitado por uns universos diversos que não o da música, gosto de cozinhar, ver documentário, estabelecer dias de encontro, dias só meus (quase-inegociáveis) pra depois voltar pro trabalho, que é a música, tentando ao máximo não me deixar consumir por essa ideia de hype, de viral, nem todo artista vai ser a Anitta, nem todo médico vai ser o Dr. Rey (brincadeira).
Jovem, se você não for herdeiro, trabalhe com a realidade, tá? Exercitar o fazer com o que se tem é gostoso e faz bem”
Dicas, dicas, dicas!
Nascido do Crime, de Trevor Noah [livro]
Voltando ao assunto, eis outro cara que é quase uma utopia, uma voz masculina muito relevante para nossa geração. Nascido na África do Sul em 1983, o comediante relembra a infância durante o apertheid vista hoje com seu olhar pós-jovem. Assim como Ted Lasso, é engraçado sem nunca deixar de ser sensível (pelo contrário!), e é muito interessante como ele intercala suas experiências com dados históricos, para nossa leitura ser sempre bastante completa. Bônus: A tradução em português é bem decente (eu sou chatíssimo com isso, então pode confiar). Ah, e devo dizer, o livro não é recente, é de 2016, mas eu ganhei de presente faz umas semanas (valeu, Kika <3).
The Age of Pleasure, de Janelle Monáe [disco]
Sempre admirei Janelle Monáe, mas nunca fui um ouvinte muito assíduo de seus três primeiros discos. Já esse novo, nossa, tá difícil parar de escutar. É legal notar como ela, que sempre se colocou como uma dessas artistas muito espetaculares, no sentido pomposo do termo, agora se despe (literalmente) para se colocar em seu lugar mais humano, enquanto traz a intenção (olha aí a palavra de novo) de ser uma voz empoderadora para as populações preta e queer.
Imagina Só, de Nathália Pandeló Corrêa [newsletter]
Essa já foi dica no podcast, no episódio #150. Talvez você conheça minha amiga Nathália Pandeló Corrêa pelo Tenho Mais Discos que Amigos ou pelo que nós dois aprontamos no Música Pavê, mas é no Imagina Só que você pode conhecê-la de verdade. Lá, ela abre umas ideias do que tem vivido, pensado e sentido sendo uma pós-jovem que é mãe, esposa, filha, profissional, amiga e uma mente e coração atentos ao mundo de hoje. Eu adoro, você vai também.
E no podcast…
Tô feliz pra caramba com o episódio da semana, com Rodrigo Lima (da banda Dead Fish). Quem me deu essa ideia, há alguns meses, foi um dos meus amigos mais próximos (beijo, Diego!), e rolou aquele momento “cara, como eu não pensei nisso antes?”. Poucos dias depois, eu estava entrando em um evento de onde ele estava saindo. Só falei “te mando mensagem amanhã!” e começou aí aquela gangorra de agenda: Quando um podia gravar, o outro não podia. Foi assim por um bom tempo, até que, na terça-feira da semana passada, ele mandou uma mensagem 10h30 falando “e se a gente gravasse agora às 11h?”. Larguei tudo o que eu estava fazendo (e por iiiiiiisso que o episódio de terça atrasou!), mergulhei no papo e foi um dos que eu mais gostei de gravar nos últimos tempos (e olha que eu gostei muito de gravar os outros).
Já na semana seguinte, a primeira de julho, teremos não um, mas dois episódios. Um na terça, com uma cantora muito gente boa (e com muito para contar)(mas não vou dizer quem ainda) e outro na quinta sobre exercícios físicos, com um profissional da área. Juntos, os episódios fazem com que aquela semana seja bastante focada em bem estar e qualidade de vida. E quem não quer isso, não é mesmo?
Bora manter contato!
Em 10 de julho, daqui duas semanas, vem mais newsletter para você. No meio tempo, vem pro papo no podcast@posjovem.com.br e siga o Pós-Jovem no Instagram e no Twitter.
Amigo, que estreia! Orgulho imenso estar ali nas dicas, tenho nem roupa pra estar ao lado de Trevor e Janelle (no caso dela, nem precisa - aquelas kkk). Seremos eternamente viuvinhas de Ted Lasso, né? Coisa boa é assim, fica. Espero que seja o mesmo pra news do Pós Jovem ❤️