Não Vou Me Desculpar por Tocar Nesse Assunto
O lance é que a gente precisa sim falar sobre nossos erros, e também sobre o que nos impede de falar deles
Parte de mim não quer usar desse espaço, ou do meu tempo, para colocar no mundo mais um text(ã)o sobre nossa dificuldade em lidar com nossos erros e defeitos, enquanto outra parte minha concluiu que, se ainda não dominamos a arte de sermos imperfeitos, então é preciso tocar nesse assunto mais uma vez.
Olhando mais a fundo nesse meu espelho, notei que havia aí um medo de ser repetitivo, assim como o de ser insuficiente - afinal, tenho uma leve impressão de que se um pós-jovem se propõe a trazer à tona um tema pela enésima vez é porque, ah, agora vai, teremos aí a solução de todos os nossos problemas de uma vez por todas. Se não é para ser assim, é melhor nem começar a escrever.
Mas é claro que isso é apenas uma enorme bobagem causada pela mesma insegurança que me motivou a vir a sentar aqui para te contar essas coisas. E para começar a dissertar sobre esse assunto, eu automaticamente me coloco como objeto do texto e assumo aqui que tudo isso vem da dificuldade de compreender - ou, sei lá, “colocar em prática” - conceitos que aprendemos na infância, como errar é humano ou ninguém é perfeito.
São frases tão repetidas e, com isso, tão esvaziadas de sentido que nem podem mais ser chamadas de “máximas”, viraram “mínimas” (plateia ri). E eu, como grande parte da humanidade, estou tão acostumado com elas que já nem consigo enxergar o que mais preciso ali dentro: Eu mesmo. Porque eu preciso lembrar (ou finalmente compreender) que ser humano é errar, e que todos são imperfeitos, e essas duas frases são também sobre mim.
Se ser gente é ter garantia do erro, eu posso acordar amanhã entendendo que eu vou dar meu melhor, tentando acertar, e vou usar uma palavra errada. Vou acabar magoando alguém nisso, certeza. Vou também me expressar de um jeito que não levou em consideração algo que eu não queria ter esquecido, ou vou deixar de fazer algo por alguma distração. E é nessas que a gente comete gafe, perde prazo, causa incômodo. Acontece.
Mas, se todos são imperfeitos, o peso do olhar do outro (que também erra, magoa, se expressa mal, se distrai, comete gafe e perde prazo) pode ganhar uma escala mais humana, e bem menos opressiva. Porque eu entendo que estou aqui morrendo de medo de ser julgado por alguém que também erra e, muito provavelmente, também está morrendo de medo do meu olhar julgador. Esse aí que é o tal do ciclo sem fim, né?
É frequente escutarmos de alguém no podcast, acho que principalmente os 40+, que ser pós-jovem é se importar menos com a opinião alheia. E eu tenho entendido que o caminho é esse, o de dar uma melhor dimensão para o que os outros pensam e dizem sobre nós, tendo em vista também que esse tal do outro tá lá lidando com suas próprias questões e - surpresa! - talvez seja por isso que esteja tão atento às nossas atitudes.
Não termino esse raciocínio sem inseguranças (muito pelo contrário), mas escrevo a conclusão aqui com o entendimento de que, quanto mais falarmos desses monstros todos hoje, menos força eles terão amanhã. Aí eu vou acordar com menos medo de errar, e acabar errando ainda assim (“é sobre isso”, como diziam as pessoas em 2021).
Deixo só mais essas perguntinhas aqui: Você tem com quem conversar abertamente sobre os seus erros? E você tem dado a oportunidade pras pessoas se sentirem seguras para virem falar contigo sobre as inseguranças delas? Aproveita e pensa no “por que sim” ou no “por que não” de cada uma delas (mas, fica de boa, não precisa me responder não, essa é só pra sua conversa aí dentro).
Eis um grupo de pós-jovens te julgando por suas imperfeições. Uma boa notícia é que eles também são imperfeitos. E a outra boa notícia é que eles nem existem.
Por falar em Pós-Jovem
Eu tinha uma ideia inicial pra esse texto e, quando me dei conta, estava escrevendo algo muito parecido com a conversa que tive com minha amiga Natália Sousa no episódio #067.
Depois, enquanto redigia, a repetição da palavra “outro” me lembrou o papo super recente (mas que muita gente comentou falando que curtiu demais) com meu amigo Rubel (#203).
Se você quiser escutar mais sobre erros nos processos criativos, tem essa conversa massa com o fotógrafo César Ovalle (Cesinha) (#083). Mas se o lance for falar dos erros na vida mesmo, indico o papo com Teago Oliveira (#027), da banda Maglore.
E no podcast…
Nesta semana, teremos pela primeira vez em um bom tempo um daqueles episódios nos quais eu saio falando sobre um tema específico. Foi uma amiga que me pediu a partir de uma conversa que a gente teve, e é um assunto com várias intersecções com esse texto aqui. Espero que te faça bem.
Bora manter contato!
Em 27 de novembro, daqui duas semanas, vem mais newsletter para você. No meio tempo, vem pro papo no podcast@posjovem.com.br e siga o Pós-Jovem no Instagram e no Twitter.
Um dos meus podcasts favoritos (além do PJ) é um dedicado aos fracassos de gente famosa. Porque os meus fracassos já estão bem internalizados, humanizados até demais, mas os de gente rica e brilhante não haha Existe um consolo em saber que estamos nessa juntos. Enfim, só queria dizer também que leio todas as newsletters com a sua voz na cabeça, porque sim.