Nostalgia, Saudade, Memória Afetiva e Afins - Mas Não Necessariamente Nessa Ordem
Aliás, acredita que o Pós-Jovem tá completando cinco aninhos de vida?
Sabemos: Ser pós-jovem é ter acumulado uma quantidade bastante razoável de saudades ao longo da vida. De pessoas, de lugares e até daquilo que a gente não viveu - já diria o poeta -, há saudade pra tudo.
E talvez ser pós-jovem é também saber conferir a devida finalidade a esse sentimento - aliás, que bonito estar aqui conversando contigo em um idioma que tem a palavra saudade como sentimento, né? Saudadar não existe no verbo (ação), mas o substantivo indica algo que se sente. E quem realiza a ação somos nós aqui, antes que a saudade nos mova na direção errada. Eis a questão.
Acho muito interessante pensar que nossa memória é seletiva e guarda só o lado bom de situações que não foram muito bacanas. Às vezes, parece que nos é exigido um esforço considerável para lembrarmos por que não estamos mais naquele trabalho ou curso, por exemplo, se as primeiras lembranças que nos vêm à mente quando pensamos na época são boas. Daí a diferença de só sentir saudade e resgatar, em algum arquivo empoeirado da mente, a narrativa que temos para justificar a vida ser hoje diferente.
É saber que não foi à toa que aquela pessoa, que um dia lá no passado te fez algum bem, não está mais na sua vida. E aí você sente a saudade e precisa entender que pode sorrir com a lembrança positiva sem fazer o esforço de tentar viver aquilo mais uma vez - impossível, porque aquelas duas pessoas já não existem mais, e a soma de vocês dois hoje resultaria muito provavelmente em algo muito diferente.
Tem também a saudade de quem não está por perto porque foi a natureza que decidiu levá-la - e ser pós-jovem é ter cada vez mais histórias de gente que foi embora, né? E existe aí um descompasso entre nosso esforço de manter a memória daquela pessoa viva e, em paralelo, isso dar ainda mais vontade de matar a saudade, mesmo sendo impossível. Aliás, que interessante esse verbo aí, né? Matar. É um sentimento que não queremos vivo, mesmo quando ele ecoa algo bom.
Gosto também da expressão memória afetiva já a partir da escolha dessas palavras: É a lembrança que nos afeta. Ou, mais especificamente, “a capacidade de recordar emoções e sentimentos ligados a experiências do passado, sejam elas alegres, tristes, reconfortantes ou desafiadoras”, de acordo com uma plataforma de inteligência artificial aqui na aba ao lado, que continua: “Estas memórias estão profundamente enraizadas em sentimentos de afeto, conexão e identidade”.
Você é o que você come, entendo disso, mas você também é aquilo que se lembra - vide a explicação acima com o termo identidade. Nós somos capazes de fazer essas mini viagens no tempo dentro de nossas mentes e lembrar não só o que aconteceu, mas como nos sentimentos em relação a esses fatos. E é aí que entendemos que saudade não vem sozinha, ela bate à sua porta trazendo um ou mais sentimentos que você não convidou para a visita.
Agora é quando eu volto à questão: O lance é sabermos o que fazer com a saudade e também com as emoções que ela nos dá de brinde. E um desses combos sentimentais é justamente a tal da nostalgia, que é aquele calorzinho na alma quando algo traz para o agora, ainda que só aqui dentro, um conjunto de sensações do passado que a memória seletiva organizou.
E tenho pra mim que a já mencionada direção errada que esses sentimentos podem nos sussurrar pra seguir tem a ver com esse sentimento nostálgico tão gostoso, que nos afeta até em nossa identidade, e a tentação de tentar voltar ao passado. Ou, tão ruim quanto, é aquele discurso de que as coisas eram melhores antes - daí deixar essa impressão, enviesada pela memória seletiva, adubar um terreno onde se crescem várias ervas daninhas mentais.
Quando minha amiga Nathália Pandeló (#230) e eu decidimos trazer esses temas ao Pós-Jovem, ainda que ligados à cultura pop, houve essa preocupação de estarmos situados no agora, sem intenção do retorno. É reconhecer a saudade, organizar a memória afetiva e abraçar a nostalgia enquanto algo que faz muito parte de nossa vida. Vamos conversar, relembrar, sorrir e tudo o mais, mas sem forçar nem o resgate (trazer o tema em questão para hoje), nem a volta (rejeitar o presente em função do passado).
E aí o verbo para lidar com saudade é apreciar. É observar e compreender o quanto o que vivemos formou quem somos hoje, deixar todos os sorrisos virem ao rosto, e não perder de vista que a direção a se seguir é pra frente. Saudade não é necessariamente olhar para trás, mas mirar o que existe aqui dentro e deixar a nostalgia nos abraçar.
Fica aí o convite para, a partir desta semana, participarmos de uma apreciação coletiva de produtos culturais que nos moldaram como indivíduos e como geração. Se a saudade apertar (e vai), saberemos o que fazer.
No podcast…
Na semana em que o Pós-Jovem completa cinco aninhos de vida, o convidado é titânico: Paulo Miklos (uau!) fala de como seus projetos no cinema e TV o encontram, como lida com comentários dos outros e também conta sobre seu mais recente lançamento, o disco Paulo Miklos - Ao Vivo, que passeia por sua carreira com e sem Titãs. Sai na terça, dia 14 de maio, e ninguém pode perder (sério!).
Dois dias depois, 16, chega a estreia do novo formato de episódios do PJ, o tal do podcast nostálgico, e o tema vem a calhar com outro aniversário: O de 30 anos do programa Castelo Rá-Tim-Bum, verdadeiro ícone da TV infantil brasileira nos anos 1990. Nós aqui amamos gravar esse, sei que quem cresceu assistindo Nino, Biba, Pedro e Zequinha na televisão vai adorar o episódio.
E já que estamos aqui…
Comentei há cerca de um mês da primeira turma do curso Diálogos de IA: Conceitos e Aplicações, que ia acontecer no fim de abril. Pois bem, não só aconteceu como foi muito bom e logo começou a pressão para uma segunda turma. Então bora: 20 de maio, na próxima segunda, acontece uma segunda data para quem quer entender melhor o que é e como conversar sobre inteligência artificial - não é um tutorial de como usar essas plataformas, mas uma visão crítica sobre passado, presente e possível futuro da relação da humanidade com as máquinas. Os detalhes estão no Instagram, e a ficha de inscrição pode ser acessada neste link. Qualquer dúvida, pode entrar em contato respondendo este email.
Antes de acabar…
Deixar aqui um beijo imenso para quem fez e faz o Pós-Jovem acontecer: Nik Silva (que começou o projeto comigo em 2019), Nayara Lara (que segue caprichando no design), Peartree (com a melhor trilha de podcast da história) e Nathália Pandeló (que acabou de chegar, mas, em dois episódios gravados, já comprovou ser a melhor pessoa para essa função).
E um beijo de igual tamanho a todo mundo que escute, lê, comenta, recomenda e tem o Pós-Jovem como uma companhia certa toda semana. É especial demais saber que estamos juntos nessa jornada aí de aprender mais sobre os outros e sobre nós mesmos. Valeuzão <3
Bora manter contato!
Em 27 de maio, vem mais newsletter para você. No meio tempo, vem pro papo no podcast@posjovem.com.br e siga o Pós-Jovem no Instagram e no Twitter, além do canal Acesso aos Bastidores do Whatsapp.
Que privilégio ter esses papos com você, meu amigo! Obrigada pela acolhida e vida longa ao Pós-Jovem ❤️