Não sei pra você, mas orgulho é uma palavra que me desce meio incômoda. Talvez por ser o oposto de humildade, e, poxa, é claro que eu quero ser humilde, daí toda vez que sou confrontado com esse termo, ou com uma oportunidade de usá-lo em primeira pessoa, o desconforto é real.
É uma sensação um pouco solitária, já que a vida contemporânea, pautada por redes sociais, parece recompensar a expressão de orgulho. Para onde olho, é um “admire aqui o que eu fiz/tenho/comprei/gasteimuitagranacom” atrás do outro, acompanhado de uma aparente obsessão com o próprio rosto (que, aqui dentro do raciocínio, eu vou chamar de “orgulho de ter a cara que tem”). E ocorre também aquele esvaziamento de significado quando vejo que, se todo mundo tem orgulho de qualquer coisa, então que valor que qualquer coisa acaba tendo?
Ainda nessa ideia, pega bem mal também quando vemos alguém se orgulhar muito de algo que não é lá tão legal. Sabe? (Sabe sim que eu sei) Acho que todo mundo conhece uma ou outra pessoa que tem umas realizações medianas, mas proclama ao mundo que aquilo é maravilhoso. E eu vou chutar aqui que é a mesma pessoa que não só é obcecada pelas selfies como também tem uma foto de si como plano de fundo do celular (credo!).
E aí, a esse ponto da conversa, acho que vale a pena trazer um outro sentido de orgulho com um valor bastante diferente desses, aquele que se contrapõe não com humildade, mas que tem como antônimo a vergonha. Como é bonito ver grupos de pessoas proclamarem que se orgulham, nesse significado aí, de serem quem são, mesmo dentro de um histórico de opressão, envergonhamento ou qualquer palavra violenta que você queira usar.
No sentido que estou pensando e vivendo aqui, o orgulho não é contrário de vergonha. Na real, eu tô é falando da vergonha de sentir orgulho, ou, indo ainda mais a fundo (porque sei que posso ser sincero aqui), do medo de alguém olhar para meu “gente, olha que maravilhoso isso” e pensar: “Mediano”.
Nesse momento aí, eu já me censuro e me lembro que o olhar do outro (independente do valor, muito ou pouco, que dá para minhas coisas) não vão ser definidor de como eu me sinto em relação ao que é meu. Mas, ainda assim, eu volto pra questão inicial: Não quero me orgulhar se isso pode bater em algum lugar meio errado aqui dentro.
A boa notícia é que essa história aqui é de final feliz. Tem uma gambiarra emocional aí que não falha nunca - ou ao menos eu nunca vi falhar -, um atalho de pensamento que, sempre que eu pego, chego rapidinho a um lugar mais interessante que aquele constrangimento da falta de humildade. É uma ferramentazinha chamada por aí de gratidão.
Sim, tô ligado que essa palavra também foi esvaziada de valor nos últimos tempos pela repetição excessiva e até mal uso (eu também, se leio fora de contexto, logo vou pro lugar da tal felicidade tóxica). É uma pena, até porque ela tem a ver com a felicidade mais genuína - a psicologia positiva entende que nada te faz mais feliz do que expressar gratidão.
Então é isso. Deve ter uma palavra em alguma outra língua que defina melhor esse sentimento que é a realização ou a satisfação que vem de contemplar algo que você fez, tem ou é e, na humildade (não constrangimento) de saber que aquilo pode não ter tanto valor pra outra(s) pessoa(s), você ainda assim ser grato por isso.
E eu sou grato, feliz, satisfeito e tudo isso quando vejo que o Pós-Jovem chegou ao episódio 200.
Grato porque a oportunidade de conversar com pessoas tão legais toda semana é um baita privilégio. Feliz porque é um projeto que gera uma resposta afetiva muito bonita de se ver nos ouvintes. E satisfeito porque é muito valioso ter a confirmação de que tem tanta gente interessada em um olhar sincerão para a vida, com curiosidade e respeito, remando contra as marés de cinismo e de toxicidade do nosso tempo.
200 episódios com gente que trouxe vivências, perspectivas, às vezes dúvidas. Que me fez pensar por dias, que me fez rir ali na hora e depois rir de novo quando editei o áudio. Pós-jovens de tantos contextos diferentes que me trouxeram eles e eu me vi ali tantas vezes, tanto nas nossas semelhanças, quanto nas nossas diferenças. 200 oportunidades que eu tive de me conhecer melhor e poder olhar pro mundo com um pouquinho mais de clareza também (e empatia, respeito e, às vezes, até esperança).
Daí é isso. Vim expressar gratidão por esse marco monumental na história de qualquer projeto independente (fazemos tanto no modo sobrevivência, imagina com tempo e dinheiro!). Agradeço demais a quem chega para escutar também nesse modo honestão, quem manda mensagem, quem comenta episódio, quem vem falar algo muito aleatório que aconteceu na vida e termina dizendo “queria te contar porque eu sei que você vai entender”. Caramba, que precioso.
Então pronto. 200 episódios, missão (sendo) cumprida. Que orgulho.
E no podcast…
Eu brinquei que queria fazer um grande evento com convidados que já passaram pelo Pós-Jovem pra comemorar a data. E é isso o que teremos nesta terça, 19, ou o mais perto disso que deu. Meus amigos Gabi da Pele Preta (episódio #130) e Rafael Chioccarello (#48) vieram participar de uma festinha improvisada, naquele mesmo grau de sinceridade e bom humor que a gente sempre encontra no podcast. E você tá convidado a sorrir com a gente nessa - hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa etc.
Por hoje é só isso mesmo?
Sim, eu entendi que a ocasião pedia que esta edição da newsletter ficasse toda focada no episódio 200. Daqui duas semanas, em 02 de outubro, voltamos à programação normal. No meio tempo, vem pro papo no podcast@posjovem.com.br e siga o Pós-Jovem no Instagram e no Twitter.