Sonhar É Estar Acompanhado da Solidão
Como disse Emicida, "você é o único representante do seu sonho na face da Terra" - ou seja, ferrou
Há um desconforto muito específico que dá as caras sem ser convidado quando encontramos amigos de antigamente e eles perguntam “e aquilo lá que você sempre quis? Rolou?”. Seu grau de constrangimento pode variar na resposta (pode até ser bem tranquilo) para dizer que não, nunca aconteceu o que você falava que queria tanto que um dia acontecesse. Mas o incômodo verdadeiro vem em seguida, quando a pessoa, na melhor das intenções, manda aquele “por quê?” e você precisa parar e recapitular para si mesmo toda sua história de vida para saber em qual parte do percurso aquele sonho ficou para trás.
Acho que ser pós-jovem é nunca julgar ninguém que parou de sonhar algo muito específico, porque quem de nós não deixou cair um sonho de uma metafórica sacola de mercado à caminho de casa e só se deu conta tempos depois? E o desenho que sua cabeça pode ter feito para os próximos parágrafos seguirem (ou só eu aqui tenho ansiedade e tenho prever desfechos de textos?) só deu conta de adivinhar por onde eles vão se você sacou o spoiler no título: Não vamos julgar quem abandona suas aspirações ao longo da vida, porque sabemos que sonhar é um processo solitário por natureza. E como é difícil sustentarmos sozinhos o peso que cada decisão acarreta, e os preços que nós mesmos temos que pagar (e já adianto também que não vou me esforçar para trazer um final feliz pra essa ideia aqui).
Sim, sei que nós mudamos e os sonhos mudam também - é claaaaaaaaaro -, então não faz sentido sustentar uma coisa que quisemos há tanto tempo e hoje perdeu o sentido - claaaaro que não. Mas, quando olhamos essa dinâmica pela lente da honestidade, vamos ver também que muitas desistências aconteceram não porque o sonho era incoerente, mas insustentável para nossa capacidade. É aí também que a gente para de julgar o pessoal que escolhe os sonhos dos outros - rola uma sensação de “meio caminho andado” quando o formato é pré-fabricado, né?
Por mais feliz que eu seja hoje (sei que às vezes não parece, mas sou!), consigo imaginar uma, duas ou mais versões minhas do passado desapontadas pelas minhas desistências (será que alguma delas teria preferido que eu rumasse na direção dos sonhos dos outros?). Não sei quantas conversas seriam necessárias para que eu conseguisse convencê-los de que está tudo bem, estou bem etc., mas sei que, não importa o que eu dissesse, eles não entenderiam ainda naquelas idades o quanto dói sonhar sozinho.
Não digo que eu ou você não temos apoio dos outros. Temos sim que eu sei, tem gente que dá toda a força que pode, tem até quem tente facilitar alguma parte do processo e sei que só estamos aqui hoje porque teve quem, em vários momentos, participasse de alguma forma das nossas construções. Mas esses movimentos, mesmo quando carregados de carinho, afeto, amor ou a força motriz que for, nunca deslocaram os desejos de onde eles nascem e o único lugar onde eles poderiam se desenvolver: Aqui dentro de você ou de mim.
É aí também quando eu lembro como é potente quando o sonho é coletivo, do casal que quer ter filhos ao grupo de pessoas que quer mudar sua realidade em nível macro. Além do óbvio primeiro plano de motivação para esses sonhos - que é seu resultado, seja um filho ou uma nova lei, para seguir os exemplos acima -, penso que esses movimentos encantam porque eles oferecem uma alternativa à solidão de desejar, planejar e executar algo que, em um primeiro momento, só existe na minha cabeça.
Por isso também que, quando eu olho para Emicida falando para um jovem ir atrás do diploma “com a fúria da beleza do Sol” (em AmarElo), eu acho lindo, dou a maior força também. Mas, quando lembro que ele (que é um cara da minha idade que sei que já sonhou muito e realizou bastante, mas que não sei como tá de pique hoje também) lançou Levanta e Anda em 2014, quando tínhamos 29 anos, me faz mais sentido o apelo: “Irmão, você não percebeu que você é o único representante do seu sonho na face da Terra? Se isso não fizer você correr, chapa, eu não sei o que vai”. É o tipo de ideia que já me motivou bastante, mas hoje dá uma grande canseira, porque me lembra que sonhar alto é estar acompanhado apenas da minha solidão.
Será que eu dou conta?
Wado, Cadê Você?
A sessão Pós-Jovem, cadê você? está aqui para botarmos o papo em dia com convidados que deram as caras no podcast há um bom tempo. Nesta edição: Wado (episódio #035).
Cadê você?
“Eu ando mais caseiro, e num processo mais de fazer as coisas com menos ego. Sou formado em jornalismo e tô fazendo outra graduação em Letras/Licenciatura, que termino no fim do ano, se tudo der certo. Acho que talvez eu esteja um pouco fora de moda, o que é bem interessante, já entrei e saí de moda várias vezes. Tenho dois disco quase prontos, um solo e um com Zeca Baleiro, tenho sido bastante escutado nos streamings, mas isso tem revertido pouco em show. Acho que é um fenômeno nacional, após a pandemia muita engrenagem desmobilizou, e o atraso nas leis de incentivo tem deixado a seara um tanto desértica. Ando feliz, cantando, pintando e tocando, como sempre, meio nas encolhas, mas é bom porque assim o povo não enjoa hihi. Ando fazendo música com a Patricia Marx também, ela é uma pessoa ótima, lidamos bem com a vida diária juntos”
O que tem te feito bem?
“O que me faz bem é meu filho Joaquim, minha esposa, minha mãe, e essa nova graduação e a possibilidade da gente sempre se reinventar. Me faz bem também trabalhar quando me pagam justamente, o que não faz bem é falta de perspectiva e pessimismo, então tô sempre inventando umas doidices pra me manter otimista e esperançoso”
O que você recomenda?
“Eu recomendo ter sempre um monte de aposta, nunca um foco único, a vida assim fica mais divertida. De música, recomendo LoreB, Totonho, Flora, Bruno Berle, Ítallo e recomendo botecos com amigos, bom papo, amizades de regar e comidas e cerveja baratinha, recomendo olhar sempre pro copo meio cheio hihi”
Dicas, dicas, dicas!
(Vou tentar algo um pouco diferente hoje aqui)
Wellmania e Sobrevivendo em Grande Estilo (Survival of the Thickest, no original) [séries da Netflix]
Decidi agrupar essas duas dicas de uma só vez porque há muitos paralelos entre as duas séries. Ambas são produzidas e protagonizadas por comediantes (Celeste Barber em Wellmania e Michelle Butau na outra) e contam a história de mulheres de 30 e tantos anos que precisam recalcular suas rotas se quiserem insistir nos seus sonhos (opa, olha eles de novo aí). Dito isso, ambas têm aquelas “obrigatoriedades” de séries da Netflix, para o bem ou para o mal: Protagonistas com a sexualidade à flor da pele, muitas cenas com drogas e uma intenção bem definida de participar do diálogo sobre minorias (meio forçado em algumas cenas, mas com uma interessante sensibilidade em outras)(mais alguém tá cansando dessa “fórmula” da plataforma?).
Enfim: Sobrevivendo/Survival é mais engraçada (entre a comédia exagerada e uma pegada comédia romântica), mas Wellmania tem ares mais realistas (mesmo com um ou outro absurdo ali no meio). São parecidas, mas vale vê-las como duas histórias pós-jovens com muito do que nós e as pessoas ao nosso redor estão passando: Repensar o que esperamos de relacionamentos, como queremos viver em nossos corpos e o quanto podemos abrir mão a favor dos objetivos profissionais.
E vale dizer também que ambas oferecem aquilo que falei com Bárbara Amaral no episódio #112 que eu sentia falta: Histórias mais próprias para os questionamentos e experiências que estamos vivendo nesta fase, para além de relacionamentos e carreira - amizade, nossas relações com nossos pais e irmãos e até o lugar físico onde moramos são temas presentes em ambas.
E já que estamos falando de dicas, posso soltar mais uma de cunho, assim, pessoal?
Podcast: Criatividade e Engajamento [curso]
Acontece no próximo 25 de agosto a primeira edição desse curso que eu vou dar lá na Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial). O foco é em podcasts para empresas, tanto na produção quanto na gestão de equipes criativas, e o curso se destina a comunicadores. Se você é profissional da área, será um prazer te receber na turma! Se não for o seu caso, indique para alguém! As inscrições são pelo Portal Aberje.
E no podcast…
Comento com frequência que é sempre um prazer para mim trazer ao Pós-Jovem aquelas pessoas que eu tive o privilégio de acompanhar com o trabalho no Música Pavê, no Monkeybuzz e por onde mais eu passo e já passei. Desta vez, a honra foi bater um papo caprichado na honestidade com o ótimo Romero Ferro, músico sobre que eu escrevi pela primeira vez em 2016 e já pude conversar e ver shows nesse meio tempo. A conversa foi sim um tanto sobre música e mercado, até porque é o que a gente tá acostumado a falar um com o outro, mas é também uma ótima chance de entender melhor quem é a pessoa que está fazendo aquelas músicas, quer você já seja fã dele ou vire fã agora com este episódio.
Bora manter contato!
Em21 de agosto, daqui duas semanas, vem mais newsletter para você. No meio tempo, vem pro papo no podcast@posjovem.com.br e siga o Pós-Jovem no Instagram e no Twitter.