Sobre Ver Séries Adolescentes
Quando me peguei feliz da vida por não ter feito ensino médio na era dos nudes, ainda que encanadíssimo com outras questões
Essas minhas últimas semanas foram marcadas por três séries adolescentes: Sex Education, Never Have I Ever (Eu Nunca)(ambas da Netflix) e Gen V (Amazon Prime Video). E elas me fizeram notar um comportamento meu que talvez aconteça com você também ao assistir a algo que retrata aqueles anos e, é claro, foi feito para pessoas com metade da nossa idade (ou menos ainda).
O primeiro - e mais óbvio - fenômeno é o do distanciamento. É sempre interessante reviver algum aspecto da adolescência ao acompanhar aqueles personagens passando por alguma realidade universal daquela época da vida: Emoções turbulentas, muitas mudanças por todos os lados e uma vontade imensa de ser adulto. Não tem como não voltar no tempo pelo menos um pouquinho e falar “nossa, eu também era assim”
Tem a ver com o tamanho da vergonha que a gente sente ao se perceber diferente do grupo (às vezes até em questões tão pequenas), ou na falta de experiência em gostar de alguém (ou pelo simples fato de “gostar de alguém” ser algo especial, né?). Ver esse fim de Eu Nunca me fez lembrar também da época de vestibulares e a ansiedade de ter todo o meu futuro definido por um espaço bem curto de tempo. Não tenho nenhuma saudade disso, cá entre nós (e quem teria?).
Acho que toda a intensidade emocional da adolescência é algo que me assusta hoje, quando eu lembro e quando eu vejo na TV. É a molecada de Sex Education tendo que ser adolescente em época de nudes e de cancelamento (disso a gente se livrou, hein?), Devi e as amigas sentindo demais e expressando de menos em Eu Nunca e o pessoal de Gen V que, além de tudo, ainda matam as pessoas com facilidade porque ainda não aprenderam a lidar com os superpoderes (e essa série é bem ruinzinha, então nem vou citá-la mais daqui pra frente).
Mas, com o tempo, minha dinâmica com essas séries tem mudado um pouco. Eu deixei de me colocar no lugar daqueles adolescentes e percebo que eu me interesso, me identifico e me envolvo muito mais com os pais daquelas crianças. Eu, que não tenho filhos, entendo hoje melhor aquelas situações que eles vivem do que as da molecada na escola, repetindo coisas que eu já passei. Doido, né?
Isso eu já sinto há algum tempo. Dessa vez, nesta “temporada” (trocadilho intencional), a situação se agravou porque não só eu era o pai vendo, mas também o tiozão. Sim, porque eu, nos meus comentários dentro da minha cabeça, cumpri esse papel com força, e as frases que eu disse espontaneamente me fizeram dar risada sozinho.
Não convém tentar reproduzi-las aqui (na real, é porque eu não lembro exatamente e ia ficar muito forçado tentar recriá-las), mas eu sinceramente tenho incômodos muito verdadeiros com o que aqueles personagens fictícios interpretados por gente da nossa idade estão fazendo ou dizendo.
Aifinal, será mesmo que a gente tem que ser tão bem resolvido sexualmente aos 16 anos? Digo não só de ter experiência, mas de saber tão claramente o que quer e o que não quer? E será que quem tem 16 anos e está assistindo a essas séries está entendendo que elas podem até se inspirar na realidade, mas elas exageram tudo justamente porque a vida real não é lá tão interessante assim de acompanhar numa tela?
Tô falando, são questionamentos de tiozão mesmo. Mas, assim como eu me identifico mais com os pais dos adolescentes do que com os protagonistas dessas séries, percebo que há alguma uma naturalidade em eu perceber que me tornei quem eu mais temia. E, olha, entre ser o tio, velho, ou a palavra de conotação duvidosa que você preferir e ser o moleque que não tá questionando essas coisas, e que talvez não saiba separar o que nos faz rir na ficção e a vida como ela é, eu admito estar bem à vontade sendo pós-jovem.
Por falar em Pós-Jovem
Pensei aqui em trazer uma seleção de episódios que falam sobre adolescência, caso você queira continuar no tema (e no distanciamento que pode experimentar hoje daquela fase).
É super recente o episódio com Marcelo Lima, no qual ele até relembrou situações que viveu na escola. Quem também foi adolescente na Bahia e nos contou sobre a experiência foi Giovani Cidreira.
Não me surpreende que Nina Oliveira e Ariel B tenham comentado sobre adolescência, até porque eles, em meados dos 20 anos, estão muito mais próximos daquela época do que eu, perto dos 40. São dois bons exemplos daquele distanciamento que eu comentei, que rola super rápido, assim que você vira adulto.
E tem também o episódio com China, que contou como foi de moleque a pai de repente - falando assim, parece até sinopse de filme da Sessão da Tarde, mas de fato ele teve filho muito mais cedo do que a grande maioria dos convidados do podcast.
Para encerrar com alguma boa base teórica, ou científica, vale relembrar o que o psicólogo Henrique da Eurekka trouxe sobre adolescência.
E no podcast…
Como você certamente sabe porque com certeza escutou o episódio da semana passada, com Rubel, não teremos Pós-Jovem excepcionalmente nesta terça, dia 17 - por isso também quis trazer algumas dicas do que escutar no podcast.
Mas tenho duas gravações marcadas pra esta semana com duas mulheres incríveis que sei que vão acrescentar muito a tudo isso que temos conversado nos mais de 200 episódios até agora.
É conversa pra caramba, aproveita o tempo para escutar alguma que você pulou e, em uma semaninha, estamos de volta.
Bora manter contato!
Em 30 de outubro, daqui duas semanas, vem mais newsletter para você. No meio tempo, vem pro papo no podcast@posjovem.com.br e siga o Pós-Jovem no Instagram e no Twitter.
Sou muito suspeita para falar de séries adolescentes, pois amo!
SKAM (a norueguesa), Dawson's Creek, Gimore Girls são algumas das minhas favoritas e que, para mim, refletem muito bem a adolescencia, essa mais comum e cotidiana. Esse exercício de olhar para trás e me lembrar de quando eu estava nessa fase tão frágil das emoções e sentimentos, me causa muita nostalgia (e eu sofro de nostalgia severa e crônica). Acho que é por isso que resolvi escrever romance juvenil, para viver nos livros o que não vivi, tomar as decições que não tomei, pensar o que não pensei.
Gostei muito de conhecer sua newsletter.
Amigo, vou deixar aqui uma dica de série adolescente maravilhosa: Reservation Dogs. Tem no Star+. Vê e depois me diz, quero ter alguém pra comentar haha
Concordo super com tudo. Estou revendo Gilmore Girls (talvez pela quarta ou quinta vez, não sei). E faz tempo que não me identifico mais com a filha; agora, literalmente, sou mãe, então naturalmente me identifico com a mãe da história. Mas é muito doido acompanhar essas mudanças de perspectivas e entender que nem toda ação que eu julgava "injusta" antigamente é vista assim agora. Nem tudo é preto no branco.